sexta-feira, 10 de abril de 2009

Eu tomo Coca-Cola...

Dia desses falei que ia ao centro de compras e me perguntaram curiosos: Onde? Tive que apelar para o inglês e mandar um ‘shopping center’, para que me entendessem. Em tempos de crise, a bola da vez é afirmar que cada vez que um americano vai ao shopping, o mundo fica feliz. Claro, eles importam quase tudo e assim sendo... Quem tem dinheiro forte pode comprar de fora e ainda obter bons resultados. Mas a ideia de que eu, aqui no meu cantinho, devesse ficar feliz quando um americano fosse ao centro de compras, confesso, me pôs a pensar.

Na minha santa ignorância imaginava que a cada Coca-Cola que tomávamos, os americanos é que ficavam felizes. E sempre que um filme de Hollywood estourava em nossas bilheterias, os americanos é que deveriam exultar. Afinal, recentemente o simpático ator americano Tom Cruise parou o Rio de Janeiro, transformando-o praticamente numa Sucupira. Filas e filas para um mísero autógrafo. E celebridades nacionais tomando chá de banco para fotografar a seu lado. Eu pensava que isto é que fazia a felicidade americana.

E quando ligava o rádio nas FMs e ouvia trocentas canções americanas, então. Será que isto não fazia a alegria dos americanos? E quando, com esforço hercúleo, tirando daqui e pondo ali, conseguimos financiar um automóvel de uma grande marca americana, não estamos de certa forma contribuindo para a prosperidade deles? Mas não, são eles que quando vão/iam ao shopping fazem a nossa felicidade. Santa ignorância a minha.

Confesso que toda a vez que vejo pais levando seus filhos aos McDonald’s da vida, imagino uma espécie de felicidade geral na nação americana. Afinal, além de um estilo de vida, de uma ou de outra forma, é mais um royalty entrando nos cofres gringos. Claro que eles ficam felizes. E quando você navega no Windows, do Bill Gates (desde que não seja pirata), não faz a felicidade americana? E quando procura algo no Google, não coopera para o bem-estar do Tio Sam?

Não sei, não, mas cada vez que deixo de dizer fones de ouvido para pronunciar headphones, por exemplo, de algum jeito coopero para o orgulho nacional americano. Afinal é a língua falada na América do Norte, imperando mundo afora. Mas quem deve ficar feliz quando um americano vai ao shopping sou eu, dizem os experts. Eu sei que eles (os experts) têm plena razão no que dizem. Os emergentes vivem/viviam praticamente das exportações para o grande irmão do norte. That’s the way we live(d).

A última flor do Lácio está inflacionada de termos ingleses, fruto da imensa e, inúmeras vezes, benéfica influência norte-americana. Dá mais dinheiro, traz mais sucesso e impressiona mais ao brasileiro chamar uma simples loja de artigos para animais domésticos, de pet shop, por exemplo. Por isso estamos estupefatos com a palpável bancarrota do Big Brother do norte. Se o país do dólar, que só faz subir diante do nosso enfraquecido real, está à beira da falência, imagine nós. Se eles deixarem de ir ao ‘Centro de Compras’, juro, não falo mais inglês.

(Hermes Aquino, publicitário e compositor)

Este texto era tudo o que eu gostaria de escrever. Assino em baixo. E ponto.

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